Após entrar na Justiça, o pedreiro Paulo Roberto Gonçalves, de 41 anos, conseguiu provar que está vivo. Pelos registros oficiais, ele era considerado morto desde 2012, após o irmão ter sido enterrado no lugar dele, em Sorriso, interior de Mato Grosso. Porém, ele mora em Campo Verde, que fica a 527 km da cidade onde o irmão foi sepultado.
Ele procurou a Justiça para anular a certidão de óbito em nome dele. Por meio da Defensoria Pública, entrou com uma ação judicial e 43 dias depois já obteve decisão favorável.
No decorrer do processo, Paulo passou por perícia no dia 24 de dezembro do ano passado para comprovar que estava vivo. Esse desfecho em 43 dias só foi possível pela pronta atuação da Defensoria. Sem CPF, Paulo não conseguiu fazer uma cirurgia de hérnia de disco que tanto precisa e nem se vacinar contra a Covid-19 até agora.
No ano passado, Paulo foi fazer uma compra em uma loja de autopeças e descobriu que havia algo de errado com seu CPF. “Meu CPF não estava dando certo. Baixei um aplicativo do SPC Serasa e constou lá titular falecido. Aí fiquei assustado”, disse.
Ele procurou a polícia e foi informado que oficialmente “estava morto”. Um homem que foi assassinado em Sorriso, médio norte do estado, teria sido enterrado com o nome dele. Havia até mesmo uma certidão de óbito emitida pelo cartório da cidade.
O irmão que morreu usava o nome dele e teria tentado assaltar um estabelecimento comercial em Sorriso. O segurança do local entrou em luta corporal com ele e o asfixiou até a morte, em 2012.
“Ele entrou lá para furtar uns notebooks, celulares e foi se esconder em uma empresa de metalúrgica. Ele lutou com um guarda, que deu um mata-leão e o matou enforcado. Ele iria ser enterrado como indigente e uma pessoa lá o identificou como Paulo Roberto Gonçalves, que é meu nome”, contou.
“Eu estou vivo. Nunca tive passagem pela polícia. Permaneço aqui, trabalhando dia após dia”, afirmou. A defensora pública Tânia Fernandes disse que o caso foi inusitado porque ele já tinha até registrado o filho que nasceu em 2019 e a falha não foi identificada.
“Foi um caso bem inusitado, porque ele disse que registrou o filho em 2019 em Campo Verde e nunca tinha visto isso acontecer. Dia 26 de janeiro foi proferida a sentença, porque já era reconhecido que ele não era a vítima lá de Sorriso”, disse.
Ele espera agora que o cartório de Sorriso anule a certidão de óbito. Só assim poderá fazer um novo CPF.
Casos como o dele, no entanto, são quase que comuns. “A gente acha que isso é absurdo. Mas é bem mais comum na Defensoria do que se pensa. Muitas pessoas que trabalham como pedreiro ou jardineiro às vezes não usam o sistema bancário. Ou delegam isso às suas esposas ou amigos. Se não fosse a ação, ele poderia passar o resto da vida como morto”, afirmou.